Candidatos bizarros não superam Tiririca nem na rede – IDG NOW

Você sabe o que faz um Deputado Federal?  A pergunta completamente estapafúrdia de um candidato que justamente pleiteava um cargo no Congresso na sua campanha na TV ganhou uma dimensão nunca antes vista em uma eleição por um único motivo: a sedimentação da militância digital.

Os sinais que vieram do pleito americano na vitoriosa campanha online de Obama deixaram claro que, para o bem ou para o mal, o uso da Internet no Brasil seria, como de fato foi, decisivo na conquista dos eleitores ou aumento da rejeição para os postulantes.

Engajados como somos com as mídias sociais, a Internet comprovou o que já estava clarividente quando levantou-se a discussão descabida se os candidatos poderiam ou não levar suas campanhas para os canais digitais: a Web não pode ser controlada e ter as candidaturas como alvo de elogios ou críticas nos blogs, microblogs ou nas redes sociais independe da ação dos marqueteiros políticos.

Independe em termos. Se não é possível impedir o “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, ficou claro que ganha o jogo quem sabe influenciar ou, como preferem alguns, evangelizar os eleitores.

Da mesma forma que as marcas enfrentam o desafio de monitorar o que é dito sobre elas nas mídias sociais para catequizar seus consumidores ou administrar percepções negativas, os candidatos também viveram uma verdadeira batalha de bits e bytes na corrida pelo voto.

KLB, Mulher Pêra e Ronaldo Esper

Intrigado se as plataformas digitais poderiam influenciar a candidatura não apenas dos candidatos a cargos majoritários, mas também dos candidatos a cadeiras de parlamentares, encomendei para minha empresa I-Group um estudo feito com a metodologia I-Brands de alguns dos candidatos, digamos, mais bizarros destas eleições: o palhaço Tiririca, o boxeador Maguila, a frutífera Mulher Pêra, o estilista Ronaldo Esper e o cantor Kiko do conjunto KLB.

Preconceituosos de plantão diriam que a audiência da Web não é o eleitorado dos candidatos pesquisados.

Não é o caso, aqui, de entrar neste mérito, mas basta lembrar que as redes sociais nada mais são do que uma virtualização das “conversas de botequim”, ou seja, nossos posts extrapolam o convescote on-line para o bate-papo nas mesas de bar, o jantar em família, as rodinhas no escritório ou o cafezinho na padaria.

Alfinetadas no Twitter

A análise I-Brands, realizada nas vésperas do pleito e até um dia depois, entre 28 de setembro e 4 de outubro, confirmou Tiririca, que já havia figurado entre os trend topics do Twitter, como o campeão de menções no microblog, com 50.291 ocorrências no período, um desempenho que foi refletido nas urnas com seus mais de 1,3 milhão de votos, um recorde que talvez só venha a ser batido por alguém que possa representar o desgosto ou a ignorância de parte do eleitorado com a política brasileira.

Os demais candidatos monitorados no estudo não foram eleitos, mas nem por isso deixaram de ser motivo de comentários na blogosfera. A Mulher Pêra alcançou 1454 menções no Twitter, um reflexo, entre outros fatores, da impugnação da sua candidatura pelo TSE.

Nocaute nas urnas, piada nas redes

Maguila levou um nocaute nas urnas, mas no Twitter chegou a ser motivo de posts 1.156 vezes, principalmente por conta do vídeo em que bate em um boneco vestido de palhaço Tiririca gritando o bordão “Política é coisa séria; chega de palhaçada”.

O fã clube do KLB também não conseguiu berrar o bastante na Web para que ele passasse dos palcos para os púlpitos, registrando não mais que 430 manifestações no microblog.

As alfinetadas de Ronaldo Esper também não foram suficientes para ingressar na vida política com miúdos 3 mil e poucos votos, um resultado que não foi diferente no Twitter, onde foi motivo para pouco mais de uma centena de posts.

Lições para as próximas eleições

Para quem ainda achava que a Internet não teria um papel tão relevante nestas eleições fica o recado: ou o candidato está na vitrine virtual, seja com comentários positivos ou negativos, ou está fadado a ser esquecido nas urnas.

Ser famoso certamente ajuda a atrair votos, mas seguramente não é o suficiente dentro de uma lei eleitoral em que o tempo no rádio e na TV mal dá tempo de dizer seu nome.

Se no mundo das marcas a crítica pode levar um produto para o ostracismo, na campanha eleitoral on-line a “viralização” do bizarro pode levar qualquer Tiririca para Brasília.

Para as próximas eleições, lembre-se:

1) Defina uma plataforma de campanha com mensagens claras e crie um QG virtual para disseminá-las;

2) Monitore o que está sendo dito sobre sua campanha e a de seus concorrentes para rapidamente “viralizar” mensagens positivas e dar respostas às críticas de forma transparente;

3) Não faça spam em hipótese alguma. Mandar e-mail pedindo apoio para um eleitor que não tem nenhuma relação com sua campanha ou, pior, agradecer por um apoio que não recebeu irá gerar nada mais do que repúdio à sua candidatura;

4) Identifique nas redes sociais os eleitores que estejam alinhados com suas propostas (é importante ter propostas e não apenas um avatar!), interaja com eles, procure saber o que esperam dos próximos governantes e parlamentares, engaje-se;

5) Acompanhe os temas que estão tendo maior relevância nas redes sociais, na imprensa on-line, na blogosfera e lidere, incentive, participe de discussões. Candidato precisa ter opinião. O Efeito Tiririca tende a só ter impacto com candidatos que atraiam votos de protesto ou votos de analfabetos políticos