Tsunami de informações: como não banalizar?
Por Indio Brasileiro
O mais devastador terremoto que atingiu o Japão, vitimando 142.800 pessoas, ocorreu três anos antes da invenção da TV, datada de 1926. Conhecido como Great Tokyo Earthquake, o terremoto de setembro de 1923, de magnitude 7.9, matou 140 mil pessoas a mais do que o ocorrido no último dia 11 de março, de magnitude 8.9 (2.772 mortos e 3.742 desaparecidos no momento do fechamento deste artigo). Mas a repercussão que teve mundo afora foi provavelmente milhões de Terabytes menor.
É difícil imaginar com que velocidade as informações em texto, foto e áudio circulavam dentro do Japão e para outros países no início da década de 20. O primeiro jornal japonês, Yokohama Itachi Uhciha Shimbun, começou a ser impresso em 1871, e certamente a destruição do País dificultou a comunicação e a transmissão das notícias.
Já a avalanche de informações deste último terremoto pôde ser rapidamente sentida nas redes sociais, blogs, portais de vídeo e sites de notícias, o que faz com que a audiência seja soterrada a cada minuto com posts, tweets, últimas notícias e imagens vindas das mais diferentes fontes oficiais e extraoficiais. Uma página com notícias no Facebook, batizada de Japan Earthquake, já contabiliza mais de 14.400 “curtir” (curtir não me parece o verbo mais adequado para o caso).
Como sobreviver a este tsunami de informações e manter o senso crítico? Este, caro leitor, já é e continuará sendo o desafio das próximas gerações, que se por um lado desfrutam das benesses da convergência dos meios de comunicação e do rápido acesso a um conteúdo quase infinito, por outro precisará aprender a como encontrar e absorver tantos bytes de notícias.
Entre os principais assuntos falados no Twitter está o esquecimento da questão da Líbia. Muitos comentam que o principal beneficiado com o terremoto foi Kadafi, que deixou de ocupar os trend topics. Alguém aí ainda lembra do Egito? E do Morro do Alemão? Ou mesmo dos terremotos no Chile e no Haiti?
Como epicentro da eclosão de notícias na velocidade da banda larga, a Web está, a cada ocorrência com alto impacto social, assumindo um papel que os meios de comunicação jamais conseguiram exercer antes da convergência e da pavimentação das estradas digitais.
Enquanto preparava este texto encontrei mais de 93.000 vídeos no YouTube com a busca “japan and earthquake”, muitos deles feitos por cidadãos comuns e não por redes de TV, sendo que o mais acessado já registrava mais de 9 milhões de visualizações. Uma hora depois do terremoto o número de tweets registrados a partir de Tóquio era de 1188 por minuto.
E o assunto ficará entre os mais comentados do microblog até que, assim como ocorre na mídia comandada pelos grupos de comunicação, caia no esquecimento simplesmente porque surgiu outro assunto mais interessante, mais atual, mais comentado nas suas conexões nas redes sociais.
Muitas empresas de tecnologia, em iniciativas louváveis, se apressaram em dar suas contribuições para ajudar as vítimas no Japão. E esta é mais uma dádiva que a Internet nos trouxe. A Apple estruturou um serviço de vendas on-line no iTunes para arrecadar dinheiro para a Cruz Vermelha, o que também pode ser feito pelo Facebook. O Google criou o Person Finder: 2011 Japan Earthquake para ajudar na localização de desaparecidos, serviço também disponível no site da Cruz Vermelha. A AT&T e a Verizon estão oferecendo ligações gratuitas para o Japão.
Do Japão de 1923 para o Japão de 2011 muita coisa mudou. Saber usar as ferramentas digitais certamente fará agora toda a diferença para buscar aliviar a dor e o sofrimento de impacto de tragédias como a da última sexta-feira.
Mas é preciso ter cuidado para que nossas viagens pela Web não banalizem episódios tão tristes simplesmente porque outro passou a ocupar a lista dos mais comentados e as vítimas caiam no esquecimento porque, assim como na mídia, deixaram de ser posts na Web.